Tecnologia de irrigação aumenta em 15 vezes a lotação de gado no pasto
A técnica nascida em Israel reduz o uso de água e serve a demais culturas além do pasto, como a produção de milho, silagem e feno.
Quer criar um sistema de produção altamente intensivo de gado exclusivamente a pasto, sem administrar suplementação energética? Um experimento do médico veterinário Fernando Garcia, pesquisador do campus de Araçatuba da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita” (Unesp), pode dar o caminho das pedras para isso, garantindo uma taxa de lotação de até 15 animais por hectare e ganhos que podem chegar até R$ 20 mil por mês.
A saída para isso é com um investimento numa tecnologia de irrigação por gotejamento feita debaixo da terra. Garcia detalhou o experimento no programa Giro do Boi desta quarta-feira, 6/4. A tecnologia é chamada de microgotejamento subterrâneo, que irriga e fertiliza ao mesmo tempo, pois os fertilizantes vão junto com a água.
“Há três anos, tivemos a oportunidade de interagir com a empresa israelense de irrigação Netafim, que desenvolveu essa tecnologia de microgotejamento. É utilizado o mínimo de água possível para produzir a comida do boi”, explica Garcia. Além do cultivo de pasto, a tecnologia serve para produzir milho, silagem, feno e elevar o potencial de irrigação no País.
Detalhes do projeto
O experimento foi feito no sítio particular de Garcia, em Araçatuba (SP). Numa área de 10 hectares, foram distribuídos 10 piquetes de um hectare. Em toda a área foi instalado um sistema de mangueiras de plástico que ficam enterradas a 30 centímetros da superfície.
Ficam distribuídos nesta área 100 quilômetros de mangueira e 200 mil pontos de gotejamento, permitindo que a umidade do solo fique constante ao longo de todo o dia.
“A água e os nutrientes ficam como se eu estivesse dando na boca da planta e não perde com a evaporação. Num sistema que caberiam 5 animais extensivamente, podemos colocar 100, 120 e até 150 animais”, diz o pesquisador da Unesp. Isso equivale a cerca de 15 animais por hectare.
Apesar da economia, o uso de água é considerável, pois o fornecimento deve ser de 20 horas por dia, em épocas de estiagem. A manutenção dos 10 hectares é feita com a distribuição de 23 mil litros de água por hora em dia seco. São 46 mil litros de água por hectare por dia.
“A gente precisa de água, claro, que muito menos que num sistema de aspersão, e menos ainda que num sistema de pivô central”, diz Garcia.
Nutrição a pasto
O sistema foi desenvolvido para as melhores categorias de bovinos, alimentados exclusivamente a pasto. O tipo de forragem escolhido pelo pesquisador foi o tifton que garante mais qualidade ao sistema de produção e uma proteção natural para o sistema de irrigação. Confira as qualidades do capim, segundo Garcia:
1- A planta forma raízes no solo contra pisoteio e erosão;
2- Na superfície do solo, o tifton já forma uma espécie de tapete protegendo o solo;
3- Índice alto de proteína de até 20%;
4- Alimento mais saboroso para o gado.
Resultados
O experimento de Garcia focou na engorda de fêmeas F1 com genética angus, comendo apenas o tifton, mais uma suplementação mineral, de sal mineral e, eventualmente, sal proteinado.
O resultado é uma engorda de até 12 meses de animais que entram com 220 quilos na desmama e chegam a 500 quilos, com um ganho de peso médio de quase 1 quilo por dia.
Fonte: Canal Rural