Fazenda brasileira é a primeira do mundo a conquistar certificação em olivicultura
A Fazenda Rainha, localizada em São Sebastião da Grama (SP), na divisa com Poços de Caldas (MG), e pertencente à Orfeu Cafés e Azeites Especiais, conquistou a primeira certificação de produção de azeitonas do mundo.
A primeira certificação de produção de azeitonas do mundo acaba de ser concedida pela Rainforest Alliance à Orfeu Cafés e Azeites Especiais. O Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) foi a instituição certificadora responsável pela orientação do grupo e a auditoria do primeiro selo Rainforest Alliance concedido a uma olivicultura.
Ricardo Madureira, CEO da Orfeu, explica que a certificação foi um movimento natural da busca do grupo por responsabilidade socioeconômica e ambiental, mas ressalta a importância da iniciativa frente a um objetivo a longo prazo do grupo a respeito da imagem do azeite brasileiro no mundo.
A certificação da produção agrícola cafeeira e da cadeia produtiva dos cafés especiais da Orfeu já acontece há 21 anos.
“Com isso, estabelecer práticas de acordo com as normas ESG na produção das oliveiras e do azeite, posteriormente, aconteceu como extensão de um trabalho que já fazíamos. “De fato, ficamos sabendo que a certificação que conquistamos com a olivicultura é inédita após o processo ser concluído”, ressalta o CEO do Orfeu.
Madureira lembra que entregar fatores como rastreabilidade e gestão responsável transmite segurança ao consumidor. “Diante disso, esperamos posicionar a produção de azeite brasileiro entre as melhores do mundo”, completa.
Investimento feito por acaso
Quem vê a conquista da certificação e uma prateleira repleta de premiações internacionais conquistadas pelos azeites Orfeu não imagina que a olivicultura entrou no grupo praticamente por acaso.
Madureira conta que a iniciativa chegou à pauta após um dia de campo, no qual gestores discutiam sobre uma área de plantio de café cuja produtividade estava abaixo da média da propriedade.
“Era uma área de vento, em uma montanha, que produzia bem menos do que o terroir tão produtivo que temos na região”, explica. “Levantamos então a possibilidade de diversificarmos o cultivo, e foram sugeridas as oliveiras”.
O ano era 2008. Com expertise em café desde 1994, o Grupo Orfeu iniciava uma nova jornada na até então desconhecida olivicultura.
“O cultivo é feito na base da tentativa e erro, pois temos um clima bastante diferente do Sul do Brasil, onde o manejo está mais desenvolvido, ou outros países tradicionais nessa prática”, afirma.
Hoje, o cultivo das oliveiras é realizado em 90 hectares dos 4.000 total do grupo (são cinco fazendas próximas), em uma região de pouco mais de 1.300 metros de altitude e terras vulcânicas.
São cultivadas azeitonas das variedades Koroneiki, Coratina, Arbosana e Arbequina, cujo destino final é a produção de azeites, realizada na própria fazenda.
Em 2022, a Orfeu produziu 196 toneladas de azeitonas que, processadas, renderam 21,5 mil litros de azeites especiais.
Conquista abre caminhos
Para Luiz Iaquinta, gerente de certificação socioambiental do Imaflora, instituto que foi responsável pela coordenação da certificação Rainforest Alliance conquistada pelo Grupo Orfeu, o feito é importante pois abre espaço para certificação de outros tipos de cultivos, ainda não certificados.
“Existe um protocolo a ser seguido, evidentemente, mas a norma da Rainforest Alliance não delimita os tipos de culturas que podem ser certificados, e vemos nisso uma grande oportunidade para o mercado brasileiro de levar esse selo reconhecido internacionalmente a uma variedade cada vez maior de propriedades, como forma de agregar valor ao produto e transparência à produção”.
De acordo com Iaquinta, a tendência é de aumento pela procura de selos e certificações que atestem a origem da produção de alimentos, uma vez que isso tem sido uma exigência dos consumidores. “A perspectiva é que, cada vez mais, a certificação seja um pré-requisito, e não um diferencial”, avalia.
Práticas ambientais e sociais
Sobre a recente conquista da Orfeu, Iaquinta comenta que o grupo se destaca pelo trabalho consistente de plantio de árvores.
Dos mil hectares de extensão da propriedade da Fazenda Rainha, onde são cultivadas as oliveiras, cerca de 400 hectares são Áreas de Preservação Permanente (APP) conservadas.
“No quesito social, a fazenda optou então por não empregar trabalhadores sazonais no campo, dando preferência para famílias que residem no local”, lembra. Hoje, são cerca de 50 funcionários, que recebem salário, benefícios, comissão pela colheita e moradia sem custo na fazenda.
Fonte: Globo Rural